sexta-feira, dezembro 29, 2006

Amendoeira


Gosto muito do MPBismo dos Los Hermanos. Ao contrário de vários amigos, não acho o 4 chato. A combinação de mar, morenas e barcos rende excelentes letras, que podem não bater as do Ventura, mas hipnotizam com seu nível de elaboração. Adoro o efeito sibilante de “Condicional”, cheia daquelas seqüências de palavras com “s”: doces deletérios, asas nos teus pés. As palavras complicadas de Paquetá, ou o epicismo de Dois Barcos – à primeira vista, entediante, logo arrebatadora. A suavidade do ritmo novo, menos roqueiro, casa perfeitamente com a agradável maresia do disco.


Isso tudo é pra dizer que não consigo entender a aclamação de Amendoeira, composição de Marcelo Camelo para seu tio-avô Bebeto Castilho, escolhida por Daniel Piza como a melhor do ano. Música bonita, mas dessa vez parece realmente que Camelo caiu num “bom gosto” estranho, no pior sentido – o que justificaria uma gravação de Emílio Santiago, por exemplo. Apesar de suas qualidades, Amendoeira é a real merecedora das restrições que a maioria das músicas do 4 recebe injustamente. Para escutar a música, clique aqui.

terça-feira, dezembro 26, 2006

No Calor da Noite


Quem observa os links à direita já sabe que não escrevo mais para o Drops de Anis, e agora faço parte do Coisa de Cinema. Ainda não produzo a quantidade de textos que gostaria, mas já estão postadas impressões sobre alguns filmes. Por esses dias, tento escrever sobre Miami Vice, o melhor filme que vi este ano, e que acabou de sair em DVD. Nessa luta, fui atrás de Fogo Contra Fogo, filme de Michael Mann produzido em 1995.


Heat (seu título original) é famoso pelo raro encontro Al Pacino – Robert De Niro, polícia e ladrão numa complexa trama em Los Angeles. Épico de três horas, por incrível que pareça, me lembra Magnólia, de Paul Thomas Anderson. Mais do que os tiros e perseguições, Heat dá importância às tentativas de administrar vida privada com atividades profissionais desgastantes, nas quais a morte é o básico da rotina – e sempre sobra um crime brutal pra dar a dose extra de estresse. Na noite de Natal, a cena do tiroteio na saída do banco me deixou transtornado. Não há nada de apologético àquela violência. A cena pode cumprir sua função narrativa num filme policial, mas Mann faz cada tiro ser sofrido. Nenhuma morte é gratuita, e o impacto é imenso.
Pacino é perfeito, De Niro também, perdidos em complicações afetivas em L.A., mas o filme é forte em humanidade até o último coadjuvante. Impressionante, neste aspecto, a eloqüência com que Mann destrincha as diversas relações amorosas dos homens com suas companheiras. Pacino tanta segurar as pontas do casamento; De Niro quer uma mulher para dividir a folga que vai conseguir por meio do grande assalto; e assim sucessivamente. Talvez daí a semelhança entre as obras de Mann e Anderson: são grandes painéis de pessoas em crise emocional. Se para Mann importam os laços conjugais, Anderson se interessa por ligações paternais. A força é de suas produções é a mesma.
Aliás, Mann também é magistral na construção da amizade entre os integrantes de cada grupo. Policiais e bandidos são quase espelhados. A cena em que os dois líderes conversam sobre o futuro num café e o final maravilhoso me lembram algo saído de algum clássico samurai.

sábado, dezembro 16, 2006

Esse desespero é moda em 75


Essa semana foram divulgados os indicados ao Globo de Ouro, sinal que o Oscar tá chegando. Coisa mais fácil do mundo é detonar a premiação, antro de frivolidades, gênios esnobados, vencedores medíocres. Tudo a ver, mas isso só vale de uns 25 anos para cá, quando os únicos "best picture" que são/serão clássicos não enchem uma mão: Os Imperdoáveis e Menina de Ouro, de Clint Eastwood, talvez Amadeus, de Milos Forman.

Os Imperdoáveis ganhou o Oscar em 1993

Antes disso, pode-se reclamar do pouco caso com Hitchcock, Kubrick e Altman, mas esse último tem razão: “ A Academia gosta de sapatos, e eu vendo luvas”, ou algo assim. Enfim, questão de adequação ao espírito da coisa. Quem pode reclamar da rejeição de Psicose quando uma obra-prima absoluta como Se Meu Apartamento Falasse é consagrada no mesmo ano?
Vendo no IMDB algumas premiações, os anos 70 provavelmente foram os mais corajosos, entre vencedores e indicados. O Poderoso Chefão 1 e 2, Operação França, Um Estranho no Ninho, Perdidos na Noite, Noivo Neurótico Noiva Nervosa, O Franco Atirador venceram o prêmio principal. Laranja Mecânica, Barry Lyndon, Um Dia de Cão, MASH, Cabaret, A Conversação, Tubarão, Gritos e Sussurros, Rede de Intrigas, Taxi Driver, todos finalistas de melhor filme. Isso sem contar com os premiados na categoria filme estrangeiro: Fellini, Kurosawa, Buñuel, Costa-Gavras, Truffaut.

O Poderoso Chefão ganhou o Oscar em 1973

Pode não ter sido a melhor década do Oscar, mas nunca filmes difíceis e autorais foram tão premiados. O melhor desses anos foi 75, premiação referente ao ano anterior. Basta pôr a lista de direção: Francis Ford Coppola, O Poderoso Chefão Parte 2; Bob Fosse, Lenny; Roman Polanski, Chinatown; François Truffaut, A Noite Americana; John Cassavetes, Uma Mulher Sob Influência. Ano seguinte: Milos Forman, Federico Fellini, Robert Altman, Stanley Kubrick e Sidney Lumet. Sensacional, mas a década teve, para compensar, duas das piores vitórias da história. Rocky e Kramer vs Kramer bateram Taxi Driver, Rede de Intrigas, Apocalypse Now e All That Jazz. Aliás, depois de Kramer, começou o período negro do Oscar, que jamais conseguiu se recuperar. Não somente a qualidade dos filmes diminuiu bastante, mas o prêmio não consegue valorizar as pérolas que aparecem ocasionalmente – claro, pérolas acessíveis, nada muito experimental, já que a Academia gosta de sapatos, é bom lembrar. Só assim para entender a predileção por Crash em prejuízo da delicadeza espetacular de Brokeback Mountain ou atordoamento político de Munique.

O Segredo de Brokeback Mountain não ganhou o Oscar de 2006

Melhor coisa para fazer com o Oscar. Pegar listas antigas e ir vendo os filmes premiados e indicados. O catálogo é muito bom. De 80 para cá, a saída é ignorar e tentar se divertir com a festa, que já se sabe, tem muito pouco a ver com qualidade cinematográfica.

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Douglas, Minnelli

Kirk Douglas chegou aos 90. No final deste post, a mensagem de aniversário. Antes disso, queria lembrar que ele é muito mais do que um movie star. Participou de filmes magníficos como Glória Feita de Sangue, de Kubrick, e Fuga ao Passado, de Jacques Tourneur, mas foi ator maior que a vida pelo menos duas vezes: em Chaga de Fogo, de William Wyler, e Sede de Viver, de Vincente Minnelli, interpretando Van Gogh. A força e a intensidade de espírito exibida nestes papéis tem tudo a ver com a conclamação de aniversário.

Sede de Viver

Falei em Vincente Minnelli, permitam-me mais uma digressão. Estava meio entediado neste sábado com Um Dia em Nova York, de Gene Kelly e Stanley Donen, quando a lembrança de outro filme entrou na minha cabeça, e não saiu mais. A Lenda dos Beijos Perdidos é um filme nada perfeito. Música imemorável, dança sem ritmo, mas é de uma melancolia intolerável. Gene Kelly encontra por acaso uma passagem secreta para um vila escocesa parada no tempo, há 200 anos. Essa passagem só é aberta uma vez a cada 100 anos – e Kelly fica perdido de amor por Cyd Charisse, mas não pode vê-la nunca mais depois que o portal é fechado.

Gene Kelly e Cyd Charisse: felicidade com hora marcada para acabar

Esqueça Em Algum Lugar do Passado. Esse falso musical de Minnelli é mais uma prova de seu refinadíssimo tato para melodramas. No auge da depressão, Kelly chega a infernos dificilmente tocados pelo diretor em filmes até mais redondos, como Deus Sabe Quanto Amei, Assim Estava Escrito e o já citado Sede de Viver. Muitíssimo subestimado.
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Kirk Douglas Editorial for His 90th Birthday, Saturday, December 9th
LOS ANGELES, Dec. 8 /PRNewswire/ -- My name is Kirk Douglas. You may know me. If you don't ... Google me. I was a movie star and I'm Michael Douglas's dad, Catherine Zeta-Jones' father-in-law, and the grandparents [sic] of their two children. Today I celebrate my 90th birthday.
I have a message to convey to America's young people. A 90th birthday is special. In my case, this birthday is not only special but miraculous. I survived World War II, a helicopter crash, a stroke, and two new knees.
It's a tradition that when a "birthday boy" stands over his cake he makes a silent wish for his life and then blows out the candles. I have followed that tradition for 89 years but on my 90th birthday, I have decided to rebel. Instead of making a silent wish for myself, I want to make a LOUD wish for THE WORLD.
Let's face it: THE WORLD IS IN A MESS and you are inheriting it. Generation Y, you are on the cusp. You are the group facing many problems: abject poverty, global warming, genocide, AIDS, and suicide bombers to name a few. These problems exist, and the world is silent. We have done very little to solve these problems. Now, we leave it to you. You have to fix it because the situation is intolerable.
You need to rebel, to speak up, write, vote, and care about people and the world you live in. We live in the best country in the world. I know. My parents were Russian immigrants. America is a country where EVERYONE, regardless of race, creed, or age has a chance. I had that chance. You are the generation that is most impacted and the generation that can make a difference.
I love this country because I came from a life of poverty. I was able to work my way through college and go into acting, the field that I love. There is no guarantee in this country that you will be successful. But you always have a chance. Nothing should interfere with it. You have to make sure that nothing stands in the way.
When I blow out my candles -- 90! ... it will take a long time ... but I'll be thinking of you.
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sexta-feira, dezembro 01, 2006

Um Grande Garoto / Novembro

Estou sem tempo para escrever com calma. Apelo para a fórmula de Nick Hornby (nunca li) e posto três top-5.

Hoje, 1 de dezembro, é aniversário de Woody Allen. Ao contrário da maioria das pessoas, acho a década de 90 do diretor excelente. Sua carreira parece que só desandou entre Trapaceiros e Melinda e Melinda, e nem tenho tanta certeza, porque perdi o recheio dessa parte supostamente ruim: Igual a Tudo Na Vida, O Escorpião de Jade e Dirigindo no Escuro. Na minha escala Woody, os dois primeiros se afastam dos seguintes, e Mariel Hemingway e o diálogo final acabam desequilibrando a favor de Manhattan (embora o desfecho ao som de What's This Thing Called Love em Maridos e Esposas seja de uma crueldade infernal).

5 – Tiros na Broadway
4 – Noivo Neurótico, Noiva Nervosa
3 – Desconstruindo Harry
2 – Maridos e Esposas
1 – Manhattan


Mariel Hemingway, neta de Ernest: "É preciso confiar nas pessoas"
Criador de grandes papéis femininos, Allen quase sempre trabalhou com um grupo fixo de atrizes, duas delas, “musas na tela e na vida real. As cinco melhores interpretações em seus filmes.

5 – Gena Rowlands, A Outra
4 – Dianne Wiest, Tiros na Broadway
3 – Diane Keaton, Um Misterioso Assassinato em Manhattan
2 – Geraldine Page, Interiores
1 – Judy Davis, Maridos e Esposas

Judy Davis enlouquecendo.

Agora, meu top 5 mensal. De vinte e nove filmes vistos em novembro, destaco:
5 - Curva do Destino, de Edgar Ulmer

4 - O Criado, de Joseph Losey

3 - Tragam-me a Cabeça de Alfredo Garcia, de Sam Peckinpah

2 - A Mulher Infiel, de Claude Chabrol

1 - Hara-kiri, de Masaki Kobayashi


Tanta coisa para falar desses filmes, mas deixa para lá.

sábado, novembro 18, 2006

Sonos Eternos


Três filmes recentes muito me aborreceram: Sin City, Dália Negra e Verdade Nua. Motivo: se vendem como revisões estilizadas do cinema noir, mas não passam de delírios formais, sem a dureza e crueldade do estilo, tão forte em filmes como A Dama de Shangai ou Pacto de Sangue, por exemplo. Partindo do mesmo princípio, não deveria admirar À Beira do Abismo, de 1946.


O filme de Howard Hawks é estrelado por Humphrey Bogart e Lauren Bacall, tem roteiro do Nobel William Faulkner. É baseado no primeiro romance de Raymond Chandler, O Sono Eterno, já estilisticamente impecável, de trama muito complicada e melancólica. Hawks e Faulkner seguem à risca o plot de Chandler, mas sacrificam o clima soturno do escritor. Fiquei com a impressão de que a confusão de tiroteios e chantagens é só pretexto para, de vinte em vinte minutos, termos um diálogo espetacular entre Bogart e Bacall. Aliás, nem sombra do detetive dos livros Philip Marlowe. Em cena, Bogart é Bogart, Bacall é Bacall, mas representam a si mesmos maravilhosamente.


Temos então um noir bastardo, uma mistura de policial com diálogos de comédia romântica – versão super sexy. Isso faz de À Beira do Abismo um filme ruim? Não. É excelente. Diversão classe AAA, violência inofensiva e final com picos impensáveis de charme. Está quase no mesmo patamar da outra obra-prima de Faulkner-Hawks-Bogart-Bacall, Uma Aventura na Martinica, livre adaptação de Ter ou Não Ter, de Hemingway. Aliás, ainda sobre À Beira do Abismo: Dorothy Malone, atriz vencedora do Oscar de coadjuvante em 57 pela performance genial em Palavras Ao Vento, de Douglas Sirk, faz ponta, interpretando uma esperta atendente de livraria, de óculos.


Conclusão: problema dos três filmes recentes citados no início não é exatamente diluir o estilo que reverenciam, mas oferecer muito pouco em troca.
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>>> No post anterior, sobre Volver, esqueci um detalhe interessante. Vários críticos colocam Kenji Mizoguchi num molde oriental de diretores do estilo de George Cukor e Joseph L. Mankiewicz, especialistas em mulheres, e fortes influências para Pedro Almodóvar. Dá para fazer uma ponte direta entre o espanhol e o japonês. Volver usa um efeito muito tradicional do cinema japonês, a convivência cotidiana entre vivos e mortos, que, sem paz, voltam como fantasmas. Volver e Contos Da Lua Vaga não somente exploram essa relação sobrenatural, mas são fortes ensaios sobre a resistência feminina a momentos adversos.

segunda-feira, novembro 13, 2006

Velhos novos

Volver

Almodóvar enfileira mais um grande filme na seqüência que começou com Carne Trêmula, em 98. Volver, ao contrário dos dois últimos, não é sobre homens, e tem alto nível de humor. Celebra a força das mulheres, capazes de se reerguer do nada e superar tudo – transformam a tragédia em combustível, o fundo do poço em mola de propulsão. Acho que a frase é do próprio Almodóvar, mas se aplica a Woody Allen, Antonioni, Bergman, George Cukor, etc. “Gosto de filmar mulheres porque elas têm mais pedaços”. Talvez não, e o espanhol já foi capaz de mostrar a complexidade do mundo masculino. Mas, em Volver, ninguém duvida que ele sabe tudo de mulher. Dos seus filmes sobre mulher, esse é o melhor, mais humano, e mais plácido também. Ele chegou no ponto da carreira de pensar na morte, e usa o exemplo do afeto feminino para celebrar o perdão e a reconciliação. Lelouch falou sobre Spielberg depois do lançamento de E.T., mas a sugestão é perfeita para o momento:”Ele não deveria ganhar Oscars, e sim o Nobel da Paz”. (Almodóvar, mesmo em versão simples e enxuta continua muito apaixonado por cinema. Depois de fazer Tudo Sobre Minha Mãe para Bette Davis, Volver é homenagem a Joan Crawford: o drama de mãe e filha vem todo de Alma Em Suplício, de Michael Curtiz, e Almodóvar supera o filme antigo. Na televisão, já perto do fim, Belíssima, de Visconti).

Os Infiltrados

Para Scorsese, Os Infiltrados é ponto alto depois de dois filmes infelizes, e, como quase sempre, tem um magnífico ensemble masculino. Jack Nicholson, Mark Wahlberg, Matt Damon e Leonardo DiCaprio se envolvem num complicado jogo de espionagem de polícia e ladrão no submundo de Boston. Violência corre solta, e Scorsese acerta em cheio no personagem desequilibrado do excelente DiCaprio. Ele é o ponto de distanciamento da selvageria dominante, e o que impede o filme de ser “só” mais um filme de ação bem realizado. Aliás, bem realizado é pouco, filme é um primor de roteiro e montagem – ou seja, administração da história. Tensão explode. Ainda assim, a expectativa de um novo Cassino pode provocar um pé atrás. Pena não ver Joe Pesci, os travellings, os offs superpostos... Mas o que ele já fez é muito bom.

segunda-feira, novembro 06, 2006

Outubro

Cinco melhores filmes que vi em outubro:

5 - O Dia do Chacal, de Fred Zinnemann


4 - O Pagamento Final, de Brian de Palma

3 - Danton - O Processo da Revolução, de Andrzej Wajda



2 - Os Inocentes, de Jack Clayton


1 - Uma Mulher Sob Influência, de John Cassavetes

sábado, novembro 04, 2006

Laços de família

>>> Vi ontem Estrela de Fogo, filme de Don Siegel estrelado por Elvis Presley. O cantor é Pacer, mestiço que vive com pai e irmão brancos, e mãe índia. Quando os kiowas começam a lutar contra os brancos, os dois lados pedem a Pacer uma tomada de posição. A intransigência tem muito a ver com os Estados Unidos. A preocupação principal de Siegel é o que sobra da família depois de tanta violência. A tragédia inevitável nada tem de racista. A impossibilidade da miscigenação não é apresentada como lição, mas como comentário político dos mais pessimistas.


Muitos faroestes são construídos assim: a violência não existe para fins de entretenimento. A morte é elemento de pressão, para que o diretor pense as relações humanas num ambiente hostil. Em clássicos do porte de Um Certo Capitão Lockhart, A Face Oculta, ou no maior dos westerns, Os Brutos Também Amam, os laços que importam são familiares. A não contar as convenções de gênero, o que separa esses filmes dos melodramas de Douglas Sirk?
>>> Dia de Finados foi centenário de nascimento de Luchino Visconti. Coincidência perfeita: Visconti foi o cineasta da decadência, e o caminho provável de todos os seus filmes é a morte, o fim. Ninguém registrou dessa maneira o processo de declínio e destruição - de relações humanas (Obsessão, O Inocente) e políticas (O Leopardo, Ludwig). Rocco e Seus Irmãos é seu filme mais influente. Visconti mistura literatura russa e ópera para construir o épico do povo.
A família pobre tentando sobreviver em Milão, Rocco imaculado ganhando dinheiro na violência cotidiana do boxe, separado do irmão volúvel pelo amor da prostituta Nadia - é o auge do roteiro no cinema. Junta o inconciliável: o ambiente neo-realista, mas tratamento de grande melodrama. Era Uma Vez na América também não é neo-realista, mas não existiriam sem a lição de Visconti: levar a suntuosidade narrativa para as paixões violentas do mundo de verdade.


O Poderoso Chefão é herdeiro do Rocco, mas também tem os dois pés em O Leopardo. "As coisas devem mudar para continuarem as mesmas", é o dito de Tancredi para o Princípe de Salina, seu tio. Visconti filma uma morte social, eterna adaptação da aristocracia aos novos poderosos. Vito Corleone, acuado e antiquado, abre o caminho para o filho Michael. Este se torna mais poderoso que o pai, às custas de seu valor fundamental: a família. Assim, voltamos ao Rocco.

quinta-feira, novembro 02, 2006

Faixa Nobre do Esporte

UPDATE: O sufoco que o time tomou da Holanda me fez sentir falta do time velho. O passe não saiu, Carol ficou meio hesitante, e onde está a bola de segurança para resolver. Sassá, cada vez melhor, entrou e não fez feio. Pena que Mari tenha saído. Não tava muito bem, mas é porque o lugar dela é mesmo como oposto. Contra os Estados Unidos, ela entrou no final do primeiro set na inversão do 5-1, já que Renata não se destacou muito nos últimos jogos. Sobre os EUA, onde está Logan Tom?

Fui até as duas da manhã lendo. Ligo a televisão, e, grata surpresa, a Globo transmite o Campeonato Mundial Feminino de Vôlei. Pena que essas competições são sempre no Japão, e provocam horário proibitivo. Ainda assim, prazer absoluto ver a geração de Zé Roberto jogar, mesmo contra o Cazaquistão.
Dizem que é bom time, e deu calor nos Estados Unidos (perdeu de 3 a 2) na primeira rodada, liderado pela ponta Pavlova – incríveis 40 pontos. O problema do jogo contra o Brasil é que a equipe ex-soviética desistiu, poupando-se para quando tivesse mais chances. Pavlova foi sacada no final do primeiro set. Mari, Sheila, Jaqueline, Fabiana, Walewska e Carol não deram chances: 3 a 0, com parciais de 25-17, 25-13 e 25-16.
O melhor foi ver a seleção completamente azeitada, mesmo sem Fofão, que sofreu lesão leve. Há quatro anos, na Alemanha, Marco Aurélio Motta levou o Brasil pro mundial com muitas dessas jogadoras, depois que veteranas abandonaram o time. Paula Pequeno, Sassá e Sheila, entre outras, foram até às quartas, onde perderam para a China num dramático 3 a 2.
Depois do quarto lugar (das veteranas) nas Olimpíadas, o time novo tem varrido todos os títulos, e chegou ao hexa no Grand Prix. A geração anos 90/início dos 2000 jogava no tempo da vantagem, com atacantes de força e bola alta: Ana Moser, Virna, Elisângela, Raquel, Érika. O Brasil tentava ser um misto de mais leve de Rússia e Cuba – o dream team tricampeão olímpico de Regla Bell e Mireya Luis.
O novo vôlei está mais adaptado ao tempo da China, time que ganhou cada vez mais projeção depois do vice-olímpico em Atlanta, até a medalha de ouro em Atenas. É um vôlei muito marcado pela tradição oriental da velocidade, só que jogadoras altas e muita força de ataque. A geração Zé Roberto,entrou nesse tempo. Todas as bolas são de grande velocidade – é como se todo mundo jogasse no ritmo da musa Leila.
Jaqueline, Sassá e, principalmente Sheila arrebentam nesse estilo, e ainda são capazes de “resolver” as bolas complicadas, embora sem a potência da geração passada. Para o desafogo o Brasil conta com Mari, minha jogadora brasileira preferida da atualidade. Ela não aparece muito em jogos fáceis, e seu estilo é bastante frio, mas quando o jogo precisa de braço, não há competição. Lembro da semifinal de Atenas, contra a Rússia. O Brasil perdeu e Mari errou a última bola, mas já tinha feito 37 pontos.
Enquanto essas partidas decisivas não chegam, Zé Roberto faz bem em dar rotatividade ao time. Contra o Cazaquistão todas as reservas jogaram. Entre elas a ex-titular Paula Pequeno, que esteve afastada da seleção por conta de gravidez. Renata, a jogadora com braço mais pesado do time, ainda tem um tempo muito Bernardinho, mas é perfeita pra movimentar o time durante as inversões da diagonal da levantadora. (Eu a vi jogar aqui em Salvador pelo antigo BCN, durante a Copa Salonpas. Foi a melhor atacante da competição, batendo Virna, do mesmo time, que foi melhor pontuadora).
Enfim, acho que o Brasil tem tudo pra levar seu primeiro ouro mundial, e colocar de vez o time feminino em pé de igualdade em títulos com a equipe masculina. Os grande adversários devem ser os suspeitos de sempre: China, Rússia e Cuba, agora renovada, e com uma atacante do nível do dream team, Calderón Diaz. Comendo pelas bordas, a atual campeã, Itália Zebra em 2002), além de novidades, como Sérvia. O time eslavo não tema tradição de sua equipe masculina, mas surpreendeu nas duas primeiras rodadas, batendo justamente Cuba e Itália. O campeonato está só começando.
(Eu sempre gostei muito de esporte, pela TV. Sou órfão da Faixa Nobre do Esporte, da Band. Assistia até campeonato de sinuca.)

segunda-feira, outubro 30, 2006

Mais Short Cuts

>>> Emanuella Sombra inaugurou novo blog, sem perder os trocadilhos do sobrenome. Criou uma endo-blogosfera, página principal + blogs colunas, também assinados por amigos. Inaugurei uma dessas páginas agregadas. Sombra é talento ascendente no jornalismo nacional, pronta para, junto com seu par, Vitor Pamplona, travar duelo de frases amorosamente cortantes numa grande redação. O final é obviamente feliz, como num filme de George Cukor ou Howard Hawks. Pamplona, também cineasta, está mais para autor russo. Seu debut, o curta Notas de Obituário, é uma precisão de atmosfera leste-européia desconstruída.
>>> Não vejo Páginas da Vida. Parece que Manoel Carlos está em fase extrema. Parei numa banca atrás de figurinhas pro meu álbum do campeonato espanhol, e vejo três manchetes de revistas baratas: 1) Clara é raptada; 2 ) Carmem seqüestra Bira; 3) Alex some com Francisco. Com andam as estatísticas desse tipo de crime? Enfim, somente reprise de Renascer ou volta da dobradinha Benedito Ruy Barbosa & Luiz Fernando Carvalho para me colocar na frente da tv de novo. Aliás, dia 20 começam as gravações da próxima novela da oito, aqui em Salvador. Tem um núcleo baiano, de turismo sexual.
>>> Estou cada vez mais fascinado por filmes arcaicos, com soluções narrativas que se alicerçam em somente uma das mídias de onde o cinema se originou (teatro, romance, fotografia, pintura) ao invés de se afirmarem como uma síntese delas todas, ou como “cinema puro”, de “filmes cinematográficos”, quase sempre estripulia de montagem. Por exemplo: Consciências Mortas, de William Wellman, ou Boulevard do Crime, de Marcel Carné. São exemplos de teatro e novelona filmados sem muita “linguagem”, mas que se alojam na cabeça de maneira indelével. Essas obras são pedra no sapato contra a idéia amplamente difundida que não importa o que se conta, e sim a maneira de fazê-lo. A grandeza de Wellman e Carné não vem da administração, mas somente da força dos temas e situações. Claros enigmas. Bom diferenciá-los de coisas como Carta de Uma Desconhecida, de Max Ophuls, ou Rocco e Seus Irmãos, de Visconti, em que a influência do romance é mais que evidente, mas não decorre de apagamento da direção.
>>> É impressionante como não vejo notas falsas na produção de cinema argentina. À exceção de Lugares Comuns, de Adolfo Aristarain, é tudo muito bom. Curioso também que a maioria dos filmes é bem acessível, thrillers, melodramas, comédias. (Lucrecia Martel destoa dessa tendência, com seus excelentes O Pântano e A Menina Santa, mais áridos) Filmes com gente boa, com nuances, complexidades, como as pessoas da vida real costumam ser. Ninguém é um tipo de papelão. A realidade dessa gente é um elogio, com certeza. Mais sobre isso aqui.

domingo, outubro 22, 2006

Garbo?


Para quem se alinha comigo e Inácio Araújo e não vê muita graça na Greta Garbo dos filmes, sempre fascina mais o encantamento dos outros por sua figura éterea. Se a Garbo chata, chorosa e melodramática de Anna Karenina, Grande Hotel e boa parte de Ninochtka mina minha paciência, a Garbo urbana e novaiorquina parece ser bem mais interessante. Duas histórias que não canso de repetir. 1) Paulo Francis, sempre ele, conta a história sensacional da pré-estréia de A Bela e Fera, de Jean Cocteau, cujo público era somente Garbo, senhora de uma sala vazia. O filme acaba, o monstro vira príncipe e a atriz sueca, já aposentada, reclama: “Quero a minha fera de volta!”. 2) Mastroianni narra seu primeiro encontro com a diva, que pediu para conhecê-lo. A primeira fase dela: “Italian shoes?”
Volto a Garbo pelo filtro de Truman Capote, escritor que dosa perfeitamente melancolia e frivolidade. Acabo de ler Os Cães Ladram, meio que para me recuperar do sofrimento físico e psicológico de Os Sertões, clássico do jornalismo (e da narrativa) negligenciado por mim até então. Entre os grandes momentos do livro – e Capote é muito mais gênio em histórias curtas do que em A Sangue Frio -, esse terno e carinhoso texto, dentro do capítulo Nova York, segmento “Cor Local”. Para Gabriela e Fernanda:


“Vi Garbo duas vezes na semana passada, uma no teatro, onde ela sentou ao meu lado, e num antiquário da Terceira Avenida. Quando menino sofri uma série de problemas, passando muito tempo de cama, dedicando a maior parte do tempo a escrever uma peça de teatro a ser estrelada pela mulher mais linda do mundo, e era assim que eu descrevia a srta. Garbo na carta que acompanhava o texto. Mas nem a peça nem a carta foram comentadas, e por muito tempo guardei um ressentimento desesperado, que nunca mais passou, até a outra noite quando, num sobressalto do coração, identifiquei a mulher sentada ao meu lado. Foi uma surpresa vê-la tão pequena, tão vividamente colorida: como Loren McIver disse, com traços assim a gente nem espera que venha cor, também.
Alguém perguntou: "Você acha que ela é inteligente?". Isso me pareceu uma pergunta ultrajante; sério, importa para alguém se ela é inteligente ou não? Sem dúvida basta que um rosto assim exista, embora a própria Garbo possa ter chegado ao ponto de lamentar a trágica responsabilidade de possuí-lo. Não tem graça nenhuma seu desejo de ficar sozinha; claro que deseja isso. Imagino que seja o único momento em que ela não se sente só: se a pessoa percorre um caminho circular, guarda sempre uma certa melancolia, mas não se lamenta em público.
Ontem, no antiquário, ela andava de um lado para outro, observando tudo atentamente, sem se interessar no fundo por nada, e por um momento maluco, pensei em falar com ela, só para ouvir sua voz, sabe; o momento passou, graças a Deus, e ela seguiu até a porta e saiu. Aproximei-me da janela e a vi andando apressada pela rua azulada, ao entardecer, com seus passos saltitantes, longos. Na esquina, ela hesitou, como se não se soubesse para que lado queria ir. As luzes da rua foram acesas, um reflexo criou subitamente na avenida uma parede branca: com o vento a fustigar seu casaco, e sozinha, Garbo, ainda a mulher mais bonita do mundo, Garbo, o símbolo, caminhou diretamente para ela.”
Tradução de Celso Nogueira.


quinta-feira, outubro 12, 2006

O americano, os europeus


Luiz Carlos Merten tem falado muito sobre a necessidade do espectador (ou leitor, ouvinte, etc) ser co-autor do filme. Fazer pontes, criar referências que talvez só sejam válidas para ele próprio, mas que estimulam o raciocínio e apuram o olhar. Desde que vi O Novo Mundo, de Terrence Malick, não consigo deixar de associá-lo com Henry James, escritor norte-americano do século XIX. Ele passou seus últimos anos na Inglaterra, e, na fase final de livros gigantescos, criou prosa muito peculiar. Escrevia grande volume de texto para acontecimentos mínimos. Passava à margem de eventos, pulava os fatos mais importantes da trama, somente para insinuar o invisível. Nesta página, Paulo Francis, provavelmente inspirado por Thomas Hardy, fala da fúria escondida em monossílabos, subentendidos e entrelinhas.


Chego ao filme de Malick, a princípio, pela narrativa. Abstraindo as diferenças entre cinema e literatura, O Novo Mundo apresenta a mesma desarticulação linear, pela montagem. Não se trata de confundir a historinha de maneira formalista, mas de conseguir provocar o máximo de sentimento com o máximo de economia, sem escrever/filmar menos. Quase tudo da última fase de James tem mais de 500 páginas; O Novo Mundo tem 135 minutos, e, se não fosse o corte do estúdio, teria quase três horas.
No filme, o romance entre a nativa Pocahontas e o britânico Capitão Smith (cenário: início da colonização inglesa nos Estados Unidos) existe praticamente sem diálogo, no idílio e no abandono. Quando há o reencontro, a comunicação acontece sem a intervenção inútil da palavra. O ponto alto desta sensação jamesiana é o relacionamento de Pocahontas com John Rolfe, o marido que a acolhe depois da volta de Smith para a Europa. Eles convivem carinhosamente com o fantasma de outro amor fracassado, em silêncio, amparados pelo carinho que sentem um pelo outro.


Pensei que a comparação ficava nisso, mas o tipo de conflito mostrado aqui, de amor, inocência e dever social no século XVII, é muito parecido com o que se vê em livros como Retrato de Uma Senhora ou A Taça de Ouro, 200 anos depois. Nestes romances, americanos ingênuos são manipulados amorosamente por ingleses inteligentes ou compatriotas escolados. A relação, claro, passa longe do maniqueísmo, porque algozes são sempre suscetíveis a paixões mortais, e vítimas tomam o controle da situação, revelando inteligência insuspeita. Mesmo fazendo mal aos outros, ninguém é ruim – e todo mundo perde, discretamente. James, cosmopolita e quase apátrida, é cínico; Malick, “americanamente”, limpa essa perfídia relativa, mas os incidentes internacionais ainda estão lá. O final é perfeito: o amor enterrado para sempre a partir de um acordo calado.
Dias de Paraíso, de 78, também reforça minha viagem. Apesar do cenário Faulkner, a trama é idêntica à de Asas da Pomba. No romance, Kate Croy e Merton Desher precisam de dinheiro para ficarem juntos. Kate aproxima o amante de uma ricaça americana em fase terminal, para que ele possa herdar sua fortuna. No filme, Bill (Richard Gere) aproveita a paixão de um fazendeiro por sua namorada Abby, e planeja um golpe arriscado. No livro e no cinema, o mesmo paradoxo: o understatement excessivo e arrebatador.
Vejam, leiam. Se não concordarem, ao menos terão visto/lido coisas inesquecíveis.

domingo, outubro 08, 2006

Flop


Depois de muita expectativa, Dália Negra chega aos cinemas como um dos piores filmes de Brian De Palma. Problema não é exatamente roteiro confuso, mas a incrível preguiça do diretor. Há um momento muito bom: a descoberta do corpo mutilado da starlet mostrada ao mesmo tempo em que acontece violento tiroteio. De resto, direção desconfortavelmente genérica. Nada dos travellings delirantes que o deixaram famoso e tornaram seus filmes verdadeiras declarações de amor ao movimento e a fluidez das imagens. A câmera, sempre insinuante em Dublê de Corpo e O Pagamento Final (só pra usar dois exemplos aleatórios), parece não existir.

De Palma é grande cinéfilo, tanto que transformou sua filmografia em reorganização das obras que o marcaram, além de retratos do processod e criação da imagem. Dália Negra é oportunidade perdida. Essa revisão do film noir põe a perder a alma do estilo, em prol de perversão mal administrada ao ponto em que conflitos beiram sempre o ridículo, o posudo. Prefiro infinitamente O Homem Que Não Estava Lá, dos irmãos Coen, um show de forma que não perdeu o ponto de vista seco e cruel da vida. Ainda assim, há Hilary Swank, luminosa.

sexta-feira, outubro 06, 2006

A imagem da imagem da imagem da imagem

(texto provavelmente cabeção e pessoal demais pra justificar minha admiração por Vestida Para Matar. não tenho ainda as palavras para melhor definir as idéias. então, caro leitor, considere essas linhas como um ensaio de um texto melhor, que escreverei daqui a dez anos)
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Brian de Palma não filma, edita. Do mesmo modo que um editor de televisão buscando imagens para um programa jornalístico, ele trabalha sempre com material já visto, retrabalhando o arquivo. Vestida Para Matar, de 1980, é o maior exemplo desse comportamento. Há uma mulher de meia-idade esfaqueada (Angie Dickinson) no elevador do prédio de seu amante. Keith Gordon, o filho nerd, investiga o crime com a ajuda da única testemunha (Karen Allen) e do psicólogo da morta. Puro pretexto. Desde a primeira tomada, propondo perigo no chuveiro, De Palma guia o espectador através de cenas inteiras de Hitchcock.
Um Corpo Que Cai, A Sombra de Uma Dúvida e Janela Indiscreta passam pelos olhos, além de Psicose o tempo todo, em estrutura de roteiro, imagens, música. O ritmo sinfônico vem da obra-prima Marnie, com travellings atrás de mulheres criminosas em contra-plongée. Não se trata mais de citação: Vestida Para Matar existe no território da reciclagem precisa de peças avulsas. Quem não tem o repertório, verá um policial meio absurdo e muito tenso, mas não terá acesso ao essencial do diretor.


De Palma não oferece mensagens ou interpretações psicanalíticas, como o mestre Hitchcock. O americano fica com a preocupação com a forma e o tesão por objetos ópticos e de gravação. Em Um Tiro na Noite, ele usa Blow-Up, o filme-forma de Antonioni, para falar de si mesmo: técnico de som em busca do grito perfeito. Recria a cena de O Passageiro - Profissão: Repórter em que uma câmera gira sem parar num quarto, e confunde três tempos de ação através do áudio.
Vestida Para Matar é só imagem. Parte da contribuição para o desvendamento do crime vem das máquinas fotográficas programadas do garoto geek. O testemunho do crime é filtrado por um espelho. Daí a diferença entre criador e criatura. Hitchcock, artificial ao extremo, é obcecado pela instrumento óptico orgânico, o olho. Veja a primeira tomada de Vertigo, projeção do filme dentro do globo ocular. James Stewart não vai acreditar nos sentidos – vê o que é impossível, sobrenatural.


De Palma, por sua vez, situa suas obras dentro da câmera, pondo em dúvida o velho clichê de que um artista usa a vida real como matéria-prima de expressão. De Dublê de Corpo a Femme Fatale, o importante é mediado por espelhos, lunetas, radares e redes de circuito interno. Imagem da imagem da imagem da imagem. Roteiro, atores, diálogos, verossimilhança? De Palma ri na cara disso tudo, colocando helicópteros em túneis e coisas do tipo.
Fica a pergunta: por que tanto formalismo não é esterilizante? Há a resposta fácil. Domínio do ofício, que lhe permite convencer com filmes de gênero de grande apelo. Por outro lado, Deus me perdoe por citar Marshall McLuhan em público, mas os sentidos colonizados tecnologicamente já são pão dormido teórico – o que reafirma o clichê citado no parágrafo anterior. De Palma não faz nada extra-terreno. Um Tiro na Noite, Dublê de Corpo e Vestida para Matar são obras onde esse pensamento é expresso com maior eloqüência – em especial, o último, pela carga de paixão. Um filme para o mestre, um filme para o cinema.


Depois dessa trilogia, vieram os anos 80 e 90, onde “fazer referências” virou praga tão grande quanto o All Star ou Backstreet Boys. Filmes sem graça tentam distrair o público parando tudo para “citar”. Há honrosas exceções, mas demorou até 2002 pra termos um longa tão interessado em forma(tividade?). Moulin Rouge é ainda mais ambicioso que Vestida Para Matar – além do cinema, arrebanha música, teatro, ópera e literatura. Mas isso é outra história.

sábado, setembro 30, 2006

Comida, diversão e arte

Em comemoração aos 50 anos da Escola de Nutrição da UFBA, estamos apresentando a mostra "O Cinema, a Comida e o Comer" com a exibição de filmes cuja temática central gira em torno da comida e do comer, seguidos de debates. O evento ocorrerá sempre as terças às 18 horas. O evento tem como apoio a Pró-Reitoria de Extensão e a Casa do Cinema.

Na programação de outubro serão exibidos os seguintes filmes:
03.10 A festa de Babette (Babettes Gaestebud, Gabriel Axel, 1987, Dinamarca), A comida enquanto celebração da vida. Debatedor: Saymon Nascimento (FACOM);
10.10 A Comilança (La Grand Bouffe, Marco Ferreri, 1973, França/Itália), A comida enquanto prazer e enquanto projeto suicida. Debatedor: Professor André Setaro (FACOM);
17.10 Tomates Verdes Fritos (Fried Green Tomatoes, Jon Avnet, 1991, EUA); A comida como fator integrativo nas desavenças humanas.Debatedor: Professor Fernando Conceição (FACOM);
24.10 Super Size Me, A Dieta do Palhaço (Super Size Me, Morgan Spurlock, 2004, EUA); A comida na sociedade de consumo como combustível mortal. Debatedor: Professor Fernando Conceição (FACOM);
31.10 O Cozinheiro, O Ladrão, Sua Mulher e o Amante (The Cook, the Thief, his Wife & her Lover, Peter Greenway, 1989, França/Inglaterra/Holanda). A comida como ingrediente do sexo, arte e humor negro. Debatedor: Professor André França (FTC) .

Local: Auditório de Nutrição

terça-feira, setembro 26, 2006

Faster

>>> O melhor filme que vi em agosto foi Weekend à Francesa, de Godard. Muito me irritam as freqüentes associações que fazem entre ele e um cinema debilóide, pseudo intelectual. Tudo bem que ele perdeu a cabeça em algum lugar dos anos 70, mas nesta grande fase, ninguém poderia batê-lo. Weekend é Godard endiabrado, anfetaminado, extremo - o equivalente a Desconstruindo Harry na carreira de Woody Allen. O autor em modo hard. Uma hora e quarenta minutos de alucinação nonstop, road movie do absurdo. O cômico é que o hard-Godard parece com alguns Buñuel, Via Láctea, talvez. Na comparação direta, Weekend é bem melhor.
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>>> Setembro ainda não acabou, mas posso dizer que gostei muito de 3 filmes. Todas as Mulheres do Mundo e sua levada nouvelle vague, homem ama as mulheres, até encontrar todas em uma só: Maria Alice, ou Leila Diniz. A Conversação, filme do futuro que Coppola fez em 74, entre os dois primeiros Godfather, mas em versão Polanski. Paranóia, sangue e frio na espinha do mesmo tipo encontrado em O Bebê de Rosemary ou O Inquilino, sem o sobrenatural. As Aventuras de Robin Hood é o máximo do cinema como diversão de feira. Capa e espada com Errol Flynn, Olivia de Havilland e Claude Rains, em produção classe AAA. Nada pode ser mais divertido.
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>>> Dos filmes lançados esse ano, observo duas idéias recorrentes. A melancolia pós-faroeste resgatada lindamente em Três Enterros e Brokeback Mountain, mas tratada com desleixo por Win Wenders em Estrela Solitária, grande decepção. Miami Vice é excessivo ao extremo, mas Michael Mann filma com tanta urgência e brutalidade que, ao invés de estranhar Colin Farrel, Jamie Foxx e Gong Li em Cidade do Leste, penso que o crime está mesmo muito sofisticado. Junto com Munique e O Jardineiro Fiel, Miami Vice mostra o mundo em perigo, enredado nas teias do terrorismo e do crime organizado. Globalização?
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>>> Pondé, essa é a deusa contemporânea. Emmanuelle Beart, de Missão Impossível e Oito Mulheres. Boca rasgada, insinuante; corpo incomparável. Acho que bate Monica Bellucci.
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sábado, setembro 16, 2006

New York, New York


Na página de Opinião do A Tarde de ontem, Vitor Pamplona escreveu sobre tempo e decadência de artistas, a partir do exemplo de Francis Ford Coppola. Fiquei pensando no quanto isso também vale para Martin Scorsese, contemporâneo. Vivendo no Limite, Gangues de Nova York e O Aviador são bons, maduros, mas encolhem ao ponto da insignificância em relação a New York, New York, normalmente tido como “filme menor”. Nesse caso, trata-se de uma injustiça, pois trata-se de uma obra-prima, tão potente como Taxi Driver ou Os Bons Companheiros. O diretor, agora em fase DiCaprio, não parece mais ser capaz de fazer algo no mesmo nível.
No dia da capitulação do Japão, na Segunda Guerra, Jimmy Doyle (Robert De Niro) e Francine Evans (Liza Minnelli) se conhecem em um clube de jazz: festa, confete, farra. Ele é saxofonista, ela, cantora. Ambos estiveram afastados da música, lutando na guerra, como soldado e enfermeira. A primeira hora é isso, a apresentação desse namoro, sempre pontuada por standards de Gershwin e cia, além de canções inéditas de John Kander e Fred Ebb (Chicago, Cabaret). Apesar do rigor de Scorsese, o filme não parece que vai segurar seus 163 minutos.
O fôlego vai aumentando à proporção que o caso se torna mais sério e, conseqüentemente, conflituoso. Em Scorsese, os personagens são tão intensos que não cabem no corpo, estão sempre explodindo, chocando-se uns com os outros. De Niro faz com brilhantismo esse tipo de coisa. Jimmy Doyle não deixa de ser uma versão saudável (embora perigosa) de Jake de LaMotta, ou Travis Bickle. Sua presença garante tensão constante, incômodo.


O choque entre Jimmy e Francine é potencializado pela convivência full-time, casamento e trabalho, na mesma banda. Quando Francine começa a se destacar em críticas, atraindo produtores, a tensão fica insuportável. Filme entra na rota de Nasce Uma Estrela, de George Cukor, com Judy Garland, mãe de Liza. A consagração da mulher oprime o ego do marido, que perde as estribeiras. A semelhança física e profissional entre mãe e filha só reforça a comparação.
Melodrama parece material inadequado para Scorsese, mas apesar da imagem estranhamente edulcorada, temos um legítimo filme de autor. Há a dureza habitual do diretor nesse processo de separação, em altas madrugadas e depois de algumas doses de whisky. Filme segue em crescendo de agonia até o nascimento do primeiro filho, ponto para uma virada inesperada.
Antes da violência emocional alcançar o ponto de um Touro Indomável, ocorre o divórcio. Muito tempo depois, Francine vira uma estrela, e entra em cena o grande momento do filme, mais uma prova do imenso repertório de Scorsese como cineasta e crítico. A Época da Inocência e O Aviador, por exemplo, foram traduções cinematográficas rigorosas de coisas que ele admira como espectador – o melodrama operístico de Visconti e a grande biopic clássica hollywoodiana do cinema clássico, respectivamente.


Em New York, New York, ele refaz apaixonadamente a idéia do musical biográfico da personagem Vicky Lester em Nasce Uma Estrela. São vinte minutos que compilam os números musicais de um filme estrelado por Francine, Happy Endings, com praticamente a mesma trama de A Star is Born, e a mesma moral dele e do New York: incompatibilidade de sucesso e amor quando os egos são muito fortes. Na trama de Happy Endings, uma lanterninha é alçada ao sucesso por um produtor da Broadway que a abandona quando ela está no topo – ele não quer se tornar o sr. Peggy Smith.
Scorsese voa no tempo para filmar coreografias em cenários estilizados, figurinos excessivos, fotografia brilhante, cheia de vermelho, do jeito que se fazia na MGM. Na verdade, não parece um filme de 77 sobre uma história passada no final dos anos 40. Não; estamos diante de algo filmado no próprio período da trama. Happy Endings descortina o que era insinuação e mostra New York, New York já era assim desde a primeira cena, coerência impecável de visual, roteiro, interpretações. Scorsese consegue fazer o que quiser por ter domínio técnico e histórico, de sua arte.
Happy Endings também deve ser o topo da carreira de Minnelli, e falamos da mulher que foi Sally Bowles em Cabaret... O que faz aqui é reviver a própria mãe, à altura. Canta, dança e interpreta em altíssimo nível, provocando comoção e tristeza ao mesmo tempo. Comoção porque performances completas como essa são muito raras. Tristeza porque sabemos que, no cinema, este foi seu último momento expressivo. A exemplo de Coppola e Scorsese, entrou em decadência. Ainda assim, parece ser a menos culpada. Nasceu 20 anos mais tarde do que deveria, numa época em que o cinema não mais a comportava.


Não bastasse esse ponto alto de música, interpretação e cinema que é o Happy Endings, Scorsese ainda nos entrega dois brindes. Minnelli canta “New York, New York” (hoje famosa na voz de Sinatra), a canção que representa o velho amor perdido no tempo. No filme, Jimmy fez a partitura e Francine, a letra. Logo depois, a cena final incrivelmente melancólica, talvez uma expressão da inutilidade de tentar renascer o amor (ou o cinema), quando seu tempo já passou.
PS.: Fui informado pelo IMDB que a versão original do filme tinha 4 horas, cortadas para 163 minutos - o que provocou a exclusão completa de Happy Endings. É claro que o filme é muito mais do que isso, mas esses 20 minutos não somente são perfeitos, mas colocam o todo sob outra dimensão. Ainda bem que existe o DVD, enfim.

Roque

XEQUE-MATE
Prioridade de Xeque-Mate (Lucky Number Slevin), de Paul McGuigan, é mais uma vez fazer o elogio da cultura pop, e assim, quem sabe, se tornar um cult para quem compartilha as referências apresentadas em seus 109 minutos. Cenários e roupas estilizados, reviravoltas no roteiro, humor negro, diálogos pretensamente irônicos e citações a discos e filmes: é o tipo de coisa produzida por gente jovem, com grande capacidade de absorver som e imagem, ressaltando na sua expressão (filme, quadrinhos, tevê) esse repertório adquirido.
Guy Ritchie (Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes), é bom exemplo de um diretor capaz de fazer isso de maneira competente. Para a maioria dos outros diretores que se aventuram em empreitadas semelhantes, isso nem de longe garante que o produto final será bom. A ganância pop costuma jogar a habilidade narrativa para terceiro plano, como é o caso dessa estréia.
Continua... (é o segundo texto)

domingo, setembro 10, 2006

Truffaut e as mulheres

Em O Homem que Amava as Mulheres, François Truffaut criou um personagem obcecado pelo sexo feminino para falar de si mesmo. Biógrafos contam histórias maravilhosas sobre isso: ele sempre se apaixonava pela estrela do filme que estava dirigindo, e talvez por isso, elas eram retratatas como deusas absolutas. Apesar disso, Roger Ebert nos lembra, todos os papéis femininos que ele criava tinham graves debilidades psicológicas, herança hitchcockiana. Tendo visto já boa parte de sua filmografia, e como ensaio para meu projeto de lista "As Mulheres Mais Espetaculares do Cinema", fiz uma compilação com minhas preferidas nos filmes do diretor.
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10 - Delphine Seyrig como Fabienne Tabard, em Beijos Proibidos
Antoine Doinel - personagem alter-ego de Truffaut em 5 filmes - já está casado e trabalha como detetive particular. Seu caso: o dono de uma loja de sapatos quer saber porque os funcionários lhe odeiam. Doinel passa a trabalhar disfarçado na loja, mas suas investigações são atrapalhadas pela presença de Fabienne Tabard, mulher do comerciante. Mesmo sem a beleza impressionante do tempo do Marienbad, charme não falta a Seyrig.

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9 - Bernadette Lafont como Camille Bliss, em Uma Jovem Tão Bela Como Eu
Camille está presa por assassinato, e é entrevistada por um estudante de sociologia preparando um texto para pós-graduação. O filme é uma comédia, e se sustenta nas travessuras sexuais de Camille, a garota meio burra, mas que sabe usar seus dotes físicos. Esses dotes são amplamente explorados por Truffaut. Se o filme fosse bom, o papel cairia bem numa Marilyn Monroe. Lafont não chega a tanto, mas faz sua parte.

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8 - Catherine Deneuve como Marion Steiner, O Último Metrô
Na Segunda Guerra Mundial, Deneuve é um atriz envolvida com um colega de peça, enquanto tenta esconder o marido judeu dos nazistas que ocupam a França. Filme morno, cuja única graça é a intensidade de Deneuve como mulher infiel. Poucas vezes esteve tão elegante, discreta. Sua agonia casa muito bem com a ambientação fria, nebulosa. Perfeita pra uma versão de Fim de Caso.

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7 - Jacqueline Bisset como Julie, em A Noite Americana
Bisset é belíssima, mas não deixa de ser a protagonista mais insípida de Truffaut. A deusa dele nesse filme é o próprio cinema; os personagens, acessórios. Valentina Cortese e Nathalia Baye se destacam, mas nenhuma delas é a musa, a protagonista do filme dentro do filme, a "estrela americana". Mesmo que o papel não ajude, Bisset conquista seu espaço só por aparecer na tela.

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6 - Julie Christie como Clarisse e Linda, em Fahrenheit 451
Como Christie se tornou um símbolo sexual tão forte? Vítor Pamplona explica: "mais importante não é ser bonita - é comportar-se como se fosse". Christie era bela sim senhor, mas foi sua "presença" que garantiu supremacia sobre mulheres muito mais bonitas. Nos olhares, gestos, voz, a moça magrela ficava deslumbrante. Não à toa foi a Lara de Dr. Jivago, e Mrs. Miller em Quando os Homens são Homens. Fahrenheit 451 se passa no futuro (onde os livros são proibidos), Christie faz jornada dupla como a esposa alienada e a amante esperta de um policial que descobre a literatura.

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5 - Françoise Dorleac como Nicole, em Um Só Pecado
Irmã de Catherine Deneuve falecida precocemente, Dorleac é uma aeromoça que aparece para iluminar a vida de um professor de literatura em viagem a Lisboa. Iluminar é a palavra certa. Dorleac domina o P&B como uma diva do cinema mudo, mas sem as teatralidades: frágil, adulta, apaixonante. Vale dizer que pouca coisa de Truffaut é melhor do que esse filme delicado e sutil sobre paixão, adultério e vingança. Nada a ver com novela mexicana.

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4- Isabelle Adjani como Adele Hugo, em A História de Adele H.
A filha de Victor Hugo viaja para os Estados Unidos atrás de um amor não-correspondido, sofre com as seguidas rejeições, faz várias loucuras, até perder o controle das faculdades mentais. O papel é dificílimo e o filme, pesado. Truffaut precisava de uma atriz intensa. Viu Adjani num teatro e, diz a lenda, escreveu-lhe uma apaixonada carta, cujo trecho mais célebre é: "Você merece ser filmada todos os dias, inclusive aos domingos".

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3 - Claude Jade como Christine Doinel, em Domicílio Conjugal
A maravilhosa esposa de Antoine Doinel é um encanto sem fim, desde Beijos Proibidos. Ela já começa Domicílio Conjugal feliz da vida,passando em várias lojas, somente para corrigir os vendedores: "Mademoiselle, não. Madame!" Somente o comportamento meio insano de Doinel para justificar suas infidelidades. Quem tem uma mulher dessa em casa não precisa de mais nada na vida. No filme, ele corrige o erro a tempo, e ruma para um dos finais mais felizes já vistos.

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2 - Jeanne Moreau como Catherine, em Jules e Jim
O filme deveria se chamar Catherine: Jules e Jim apenas gravitam em torno dessa mulher louca, intensa, arrebatadora. Mulher complexa, cheia de nuances, nada fácil: impossível de ser contida, sexual e emocionalmente. Moreau não deixa pedra sobre pedra do espectador - seria essa a melhor interpretação da história? A boca amarga, o olhar hipnótico, enquanto canta "Le Tourbillon de la Vie". Muito boa a história de Milton Nascimento com Jules e Jim. Viu quatro vezes seguidas, no mesmo dia, e compôs por dias sem parar, sob efeito da poesia da coisa toda.

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1 - Fanny Ardant como Mathilde Bauchard, A Mulher do Lado
Em A Mulher do Lado o adultério vira crime - Ardant é a mulher ao mesmo tempo frágil e perigosa; pode causar danos a si mesma e a quem ama, mas não pode evitar, arrebatada de amor. Nunca pudica, ela é o exemplo perfeito do amor espalhado por todo o corpo - não somente em sua vontade de expressá-lo fisicamente pelo sexo, mas também como uma doença. Já viram isso antes? Ela desmaia de amor, tamanha a tensão. Seus estados ficam alterados, irradiando paixão nos cabelos, nas pernas, nos olhos insinuantes.
O engraçado é que ela hoje é tão bonita como há 30 anos. Alguém viu 8 Mulheres?

Obs.: Fora da disputa: De Repente, Num Domingo; A Sereia do Mississipi, O Garoto Selvagem, As Duas Inglesas e o Amor, O Quarto Verde; O Amor em Fuga.

Mais fotos de Ardant: