sábado, novembro 25, 2006

Jornalismo: o eterno retorno

Saiu neste sábado, na página de Opinião de A Tarde:

sábado, novembro 18, 2006

Sonos Eternos


Três filmes recentes muito me aborreceram: Sin City, Dália Negra e Verdade Nua. Motivo: se vendem como revisões estilizadas do cinema noir, mas não passam de delírios formais, sem a dureza e crueldade do estilo, tão forte em filmes como A Dama de Shangai ou Pacto de Sangue, por exemplo. Partindo do mesmo princípio, não deveria admirar À Beira do Abismo, de 1946.


O filme de Howard Hawks é estrelado por Humphrey Bogart e Lauren Bacall, tem roteiro do Nobel William Faulkner. É baseado no primeiro romance de Raymond Chandler, O Sono Eterno, já estilisticamente impecável, de trama muito complicada e melancólica. Hawks e Faulkner seguem à risca o plot de Chandler, mas sacrificam o clima soturno do escritor. Fiquei com a impressão de que a confusão de tiroteios e chantagens é só pretexto para, de vinte em vinte minutos, termos um diálogo espetacular entre Bogart e Bacall. Aliás, nem sombra do detetive dos livros Philip Marlowe. Em cena, Bogart é Bogart, Bacall é Bacall, mas representam a si mesmos maravilhosamente.


Temos então um noir bastardo, uma mistura de policial com diálogos de comédia romântica – versão super sexy. Isso faz de À Beira do Abismo um filme ruim? Não. É excelente. Diversão classe AAA, violência inofensiva e final com picos impensáveis de charme. Está quase no mesmo patamar da outra obra-prima de Faulkner-Hawks-Bogart-Bacall, Uma Aventura na Martinica, livre adaptação de Ter ou Não Ter, de Hemingway. Aliás, ainda sobre À Beira do Abismo: Dorothy Malone, atriz vencedora do Oscar de coadjuvante em 57 pela performance genial em Palavras Ao Vento, de Douglas Sirk, faz ponta, interpretando uma esperta atendente de livraria, de óculos.


Conclusão: problema dos três filmes recentes citados no início não é exatamente diluir o estilo que reverenciam, mas oferecer muito pouco em troca.
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>>> No post anterior, sobre Volver, esqueci um detalhe interessante. Vários críticos colocam Kenji Mizoguchi num molde oriental de diretores do estilo de George Cukor e Joseph L. Mankiewicz, especialistas em mulheres, e fortes influências para Pedro Almodóvar. Dá para fazer uma ponte direta entre o espanhol e o japonês. Volver usa um efeito muito tradicional do cinema japonês, a convivência cotidiana entre vivos e mortos, que, sem paz, voltam como fantasmas. Volver e Contos Da Lua Vaga não somente exploram essa relação sobrenatural, mas são fortes ensaios sobre a resistência feminina a momentos adversos.

segunda-feira, novembro 13, 2006

Velhos novos

Volver

Almodóvar enfileira mais um grande filme na seqüência que começou com Carne Trêmula, em 98. Volver, ao contrário dos dois últimos, não é sobre homens, e tem alto nível de humor. Celebra a força das mulheres, capazes de se reerguer do nada e superar tudo – transformam a tragédia em combustível, o fundo do poço em mola de propulsão. Acho que a frase é do próprio Almodóvar, mas se aplica a Woody Allen, Antonioni, Bergman, George Cukor, etc. “Gosto de filmar mulheres porque elas têm mais pedaços”. Talvez não, e o espanhol já foi capaz de mostrar a complexidade do mundo masculino. Mas, em Volver, ninguém duvida que ele sabe tudo de mulher. Dos seus filmes sobre mulher, esse é o melhor, mais humano, e mais plácido também. Ele chegou no ponto da carreira de pensar na morte, e usa o exemplo do afeto feminino para celebrar o perdão e a reconciliação. Lelouch falou sobre Spielberg depois do lançamento de E.T., mas a sugestão é perfeita para o momento:”Ele não deveria ganhar Oscars, e sim o Nobel da Paz”. (Almodóvar, mesmo em versão simples e enxuta continua muito apaixonado por cinema. Depois de fazer Tudo Sobre Minha Mãe para Bette Davis, Volver é homenagem a Joan Crawford: o drama de mãe e filha vem todo de Alma Em Suplício, de Michael Curtiz, e Almodóvar supera o filme antigo. Na televisão, já perto do fim, Belíssima, de Visconti).

Os Infiltrados

Para Scorsese, Os Infiltrados é ponto alto depois de dois filmes infelizes, e, como quase sempre, tem um magnífico ensemble masculino. Jack Nicholson, Mark Wahlberg, Matt Damon e Leonardo DiCaprio se envolvem num complicado jogo de espionagem de polícia e ladrão no submundo de Boston. Violência corre solta, e Scorsese acerta em cheio no personagem desequilibrado do excelente DiCaprio. Ele é o ponto de distanciamento da selvageria dominante, e o que impede o filme de ser “só” mais um filme de ação bem realizado. Aliás, bem realizado é pouco, filme é um primor de roteiro e montagem – ou seja, administração da história. Tensão explode. Ainda assim, a expectativa de um novo Cassino pode provocar um pé atrás. Pena não ver Joe Pesci, os travellings, os offs superpostos... Mas o que ele já fez é muito bom.

segunda-feira, novembro 06, 2006

Outubro

Cinco melhores filmes que vi em outubro:

5 - O Dia do Chacal, de Fred Zinnemann


4 - O Pagamento Final, de Brian de Palma

3 - Danton - O Processo da Revolução, de Andrzej Wajda



2 - Os Inocentes, de Jack Clayton


1 - Uma Mulher Sob Influência, de John Cassavetes

sábado, novembro 04, 2006

Laços de família

>>> Vi ontem Estrela de Fogo, filme de Don Siegel estrelado por Elvis Presley. O cantor é Pacer, mestiço que vive com pai e irmão brancos, e mãe índia. Quando os kiowas começam a lutar contra os brancos, os dois lados pedem a Pacer uma tomada de posição. A intransigência tem muito a ver com os Estados Unidos. A preocupação principal de Siegel é o que sobra da família depois de tanta violência. A tragédia inevitável nada tem de racista. A impossibilidade da miscigenação não é apresentada como lição, mas como comentário político dos mais pessimistas.


Muitos faroestes são construídos assim: a violência não existe para fins de entretenimento. A morte é elemento de pressão, para que o diretor pense as relações humanas num ambiente hostil. Em clássicos do porte de Um Certo Capitão Lockhart, A Face Oculta, ou no maior dos westerns, Os Brutos Também Amam, os laços que importam são familiares. A não contar as convenções de gênero, o que separa esses filmes dos melodramas de Douglas Sirk?
>>> Dia de Finados foi centenário de nascimento de Luchino Visconti. Coincidência perfeita: Visconti foi o cineasta da decadência, e o caminho provável de todos os seus filmes é a morte, o fim. Ninguém registrou dessa maneira o processo de declínio e destruição - de relações humanas (Obsessão, O Inocente) e políticas (O Leopardo, Ludwig). Rocco e Seus Irmãos é seu filme mais influente. Visconti mistura literatura russa e ópera para construir o épico do povo.
A família pobre tentando sobreviver em Milão, Rocco imaculado ganhando dinheiro na violência cotidiana do boxe, separado do irmão volúvel pelo amor da prostituta Nadia - é o auge do roteiro no cinema. Junta o inconciliável: o ambiente neo-realista, mas tratamento de grande melodrama. Era Uma Vez na América também não é neo-realista, mas não existiriam sem a lição de Visconti: levar a suntuosidade narrativa para as paixões violentas do mundo de verdade.


O Poderoso Chefão é herdeiro do Rocco, mas também tem os dois pés em O Leopardo. "As coisas devem mudar para continuarem as mesmas", é o dito de Tancredi para o Princípe de Salina, seu tio. Visconti filma uma morte social, eterna adaptação da aristocracia aos novos poderosos. Vito Corleone, acuado e antiquado, abre o caminho para o filho Michael. Este se torna mais poderoso que o pai, às custas de seu valor fundamental: a família. Assim, voltamos ao Rocco.

quinta-feira, novembro 02, 2006

Faixa Nobre do Esporte

UPDATE: O sufoco que o time tomou da Holanda me fez sentir falta do time velho. O passe não saiu, Carol ficou meio hesitante, e onde está a bola de segurança para resolver. Sassá, cada vez melhor, entrou e não fez feio. Pena que Mari tenha saído. Não tava muito bem, mas é porque o lugar dela é mesmo como oposto. Contra os Estados Unidos, ela entrou no final do primeiro set na inversão do 5-1, já que Renata não se destacou muito nos últimos jogos. Sobre os EUA, onde está Logan Tom?

Fui até as duas da manhã lendo. Ligo a televisão, e, grata surpresa, a Globo transmite o Campeonato Mundial Feminino de Vôlei. Pena que essas competições são sempre no Japão, e provocam horário proibitivo. Ainda assim, prazer absoluto ver a geração de Zé Roberto jogar, mesmo contra o Cazaquistão.
Dizem que é bom time, e deu calor nos Estados Unidos (perdeu de 3 a 2) na primeira rodada, liderado pela ponta Pavlova – incríveis 40 pontos. O problema do jogo contra o Brasil é que a equipe ex-soviética desistiu, poupando-se para quando tivesse mais chances. Pavlova foi sacada no final do primeiro set. Mari, Sheila, Jaqueline, Fabiana, Walewska e Carol não deram chances: 3 a 0, com parciais de 25-17, 25-13 e 25-16.
O melhor foi ver a seleção completamente azeitada, mesmo sem Fofão, que sofreu lesão leve. Há quatro anos, na Alemanha, Marco Aurélio Motta levou o Brasil pro mundial com muitas dessas jogadoras, depois que veteranas abandonaram o time. Paula Pequeno, Sassá e Sheila, entre outras, foram até às quartas, onde perderam para a China num dramático 3 a 2.
Depois do quarto lugar (das veteranas) nas Olimpíadas, o time novo tem varrido todos os títulos, e chegou ao hexa no Grand Prix. A geração anos 90/início dos 2000 jogava no tempo da vantagem, com atacantes de força e bola alta: Ana Moser, Virna, Elisângela, Raquel, Érika. O Brasil tentava ser um misto de mais leve de Rússia e Cuba – o dream team tricampeão olímpico de Regla Bell e Mireya Luis.
O novo vôlei está mais adaptado ao tempo da China, time que ganhou cada vez mais projeção depois do vice-olímpico em Atlanta, até a medalha de ouro em Atenas. É um vôlei muito marcado pela tradição oriental da velocidade, só que jogadoras altas e muita força de ataque. A geração Zé Roberto,entrou nesse tempo. Todas as bolas são de grande velocidade – é como se todo mundo jogasse no ritmo da musa Leila.
Jaqueline, Sassá e, principalmente Sheila arrebentam nesse estilo, e ainda são capazes de “resolver” as bolas complicadas, embora sem a potência da geração passada. Para o desafogo o Brasil conta com Mari, minha jogadora brasileira preferida da atualidade. Ela não aparece muito em jogos fáceis, e seu estilo é bastante frio, mas quando o jogo precisa de braço, não há competição. Lembro da semifinal de Atenas, contra a Rússia. O Brasil perdeu e Mari errou a última bola, mas já tinha feito 37 pontos.
Enquanto essas partidas decisivas não chegam, Zé Roberto faz bem em dar rotatividade ao time. Contra o Cazaquistão todas as reservas jogaram. Entre elas a ex-titular Paula Pequeno, que esteve afastada da seleção por conta de gravidez. Renata, a jogadora com braço mais pesado do time, ainda tem um tempo muito Bernardinho, mas é perfeita pra movimentar o time durante as inversões da diagonal da levantadora. (Eu a vi jogar aqui em Salvador pelo antigo BCN, durante a Copa Salonpas. Foi a melhor atacante da competição, batendo Virna, do mesmo time, que foi melhor pontuadora).
Enfim, acho que o Brasil tem tudo pra levar seu primeiro ouro mundial, e colocar de vez o time feminino em pé de igualdade em títulos com a equipe masculina. Os grande adversários devem ser os suspeitos de sempre: China, Rússia e Cuba, agora renovada, e com uma atacante do nível do dream team, Calderón Diaz. Comendo pelas bordas, a atual campeã, Itália Zebra em 2002), além de novidades, como Sérvia. O time eslavo não tema tradição de sua equipe masculina, mas surpreendeu nas duas primeiras rodadas, batendo justamente Cuba e Itália. O campeonato está só começando.
(Eu sempre gostei muito de esporte, pela TV. Sou órfão da Faixa Nobre do Esporte, da Band. Assistia até campeonato de sinuca.)